
A distância estreita que separa a vida da morte, o som inaudito de um silêncio que respira por um suspiro terminal, quantos são aqueles capazes de viver de braços dados com a terrível imagem da sua própria derrocada? Um passo em falso e o abismo se abre, corajosos equilibristas que das alturas olham para baixo, anjos tropicantes que gozam da desproporcionalidade de um mundo sem sentido.
Medalhas expostas no peito frondoso dos que preferem o chão às alturas. Basta tocar as nuvens para fazer retinir o ruído oco de meia dúzia de metais fundidos.
Corajosos equilibristas que buscam as nuvens, etéreas formações de compostos inapreensíveis.
Monumentos da arrogância triunfal transformam-se em palco do espetáculo que não cobra ingressos. Olhem para cima! A pequenez daquele que desafia a vida está alojada no mais íntimo recanto dos caminhadores terrestres.
Bendita sois vós, nuvens, que do silêncio celeste abençoa e nos preenche com a nossa mais profunda insignificância de cada dia.
E por que? Para que?
Não há "porquês", somente ação: um pé depois do outro, e lá embaixo o abismo. Caminho sem volta.
Escrito por Francisco Carvalho, à 1 da madrugada do dia 21 de setembro de 2009.