Parte
II – O depoimento de defesa de Olegário-Alô, o empresário do ramo das
telecomunicações subterrâneas, acusado do crime.
OLEGÁRIO-ALÔ:
Nobres
colegas de infortúnio dessa metrópole alvejada cruelmente pelo misterioso fenômeno
das tampas-voadoras-de-bueiro... venho aqui em resposta a desmerecida e
ultrajante acusação que recai sobre estes meus velhos e cansados ombros que
durante gerações e mais gerações se esgueiraram pelos subterrâneos desse solo
que agora recebe vossos serelepes pés com o único objetivo de trançar a mais
incrível moderna e ágil malha de fios telefônicos e com isso inaugurar a última
palavra em modernidade telecomunicatória da qual cada um dos senhores tira
proveito com seus infinitos blás-blás-blás fazendo do pobre e inocente aparelho
de telefone seu alvo direto [...] Ora vejam qual proveito tiraria eu e a minha
equipe de toupeiras - assim chamada porque tal como a minha pessoal mais viveu
debaixo da terra do que em cima dela como agora estamos - qual proveito
tiraríamos nós caso tomássemos como verdadeira essa absurda acusação de que
coube a nós plantar bombas dinamitatórias no subsolo dessa cidade e com isso
fazer explodir e voar as tampas de bueiro escrevendo nos anais dos desastres
improváveis o curioso e misterioso fenômeno ao qual ficou conhecido desde então
como o caso das tampas-voadoras-de-bueiro? Ainda se eu fosse um assassino
contumaz ou um gângster foragido quiçá um assaltante de banco que encontrou nos
túneis debaixo do asfalto a sua morada invisível mas não [!!!] convoco cada um
de vocês para um tour no escuro das nossas galerias enfeixadas pelos fios encapados
que trançados juntos formam a mais incrível moderna e ágil malha de fios
telefônicos a verdadeira e última palavra em modernidade telecomunicatória da
qual cada um dos senhores tira proveito com seus infinitos blás-blás-blás
inúteis e capciosos tornando o pobre e inocente telefone uma vítima indefesa
dessa balbúrdia verborrágica [ENFIM] convido-os todos e garanto que depois de
algumas esquinas dobradas qualquer denúncia cairá por terra haja vista o meu
enorme cuidado em preservar esse ainda intocável recanto de paz e sombra que
repousa escondido no andar-dos-inferiores [...] Ora vejam eu acusado de plantar bombas
dinamitatórias e explosivas justo eu que desde criancinha apaixonei-me pelo
subsolo e os seus encantos ah senhoras e senhores parece que foi ontem o dia em
que distraído ao empinar uma pipa tropecei e fui escorregar para dentro de um
poço profundo e fiquei ali na companhia solidária de alguns ratos mas não esses
ratos feiosos que aparecem de vez em quando na superfície de vossas casas para
surrupiar pedaços abandonados de comida não não os ratos lá de baixo portam-se
como verdadeiros gentlemans e não raras vezes superam em galanteios as firulas
ensaiadas pela corte real da Inglaterra [!] e como o resgate demorava a chegar
qual não foi a minha surpresa quando um dos ratos de nome Adamastor veio até
mim e convidou-me a um passeio pelo reino dos caminhos escondidos e eu fui é
claro afinal de contas quem é que poderia recusar uma aventura por lugares
nunca antes desbravados e ainda com a promessa de enfrentar desafios incríveis
como o da travessia do lodo-fedorento-do-esgoto em cima de uma canoa de bambu
[???] Quem iria desconfiar que a minha pessoa demoraria a sair dos subterrâneos
[...] alguns já me davam por morto e que tristeza foi descobrir que uma lápide
com o meu nome foi colocada no cemitério municipal com direito ao aqui jaz
fulano de tal reza em latim e tudo o mais [!] porque uma coisa eu digo senhoras
e senhores a vida lá em baixo é infinitamente melhor do que essa fanfarronada
enlouquecida que todos vocês aguentam por aqui no teto do mundo e se eu digo
isso é por conhecimento de causa afinal de contas eu vivi lá por uma infinidade
de anos dessa minha vida e se hoje eu estou vivendo novamente na superfície é
em razão unicamente da violenta exploração metroviária que os digníssimos
ministros dos transporte insistem em empreender arrasando com toda e qualquer
tranqüilidade que há séculos reinava onde antes buraco nenhum ousava ser
escavado {...} agora caber a mim e a minha equipe de toupeiras - assim chamada
porque tal como a minha pessoal mais chafurdou debaixo da terra do que em cima
dela como agora estamos – esse ignominioso ato de violência descabida que
consiste em explodir o subterrâneo com artefatos bélicos e dinamitatórios e com
isso fazer explodir e voar as tampas de bueiro escrevendo nos anais dos
desastres improváveis o curioso e misterioso fenômeno ao qual ficou conhecido desde
então como o caso das tampas-voadoras-de-bueiro? Ainda se eu fosse um pobre
diabo, um zé ninguém, um bêbado de esquina que não encontrasse outro jeito mais
inteligente de empreender uma vingança da qual os senhores são bastante
merecedores primeiro por furar como um queijo suíço o recanto de milhares de
ratos elegantes e inofensivos para fazer passar vossos trens de alta velocidade
segundo porque nunca durante minha vida recebi uma única homenagem um diploma
medalha de honra ao mérito quiçá a chave da cidade pelas mãos do prefeito por
contribuir de maneira tão decisiva na implementação de tão criteriosa rede de
fios encapados e enfeixados banhados a ouro e que trançados juntos formam a
mais tecnológica moderna e ágil malha de fios telefônicos a verdadeira e última
quintessência em modernidade telecomunicatória da qual cada um dos senhores
tira proveito ao zombar com seus infinitos blás-blás-blás inúteis capciosos
grotescos e indigestos tornando o pobre e inocente telefone uma vítima cruel e
indefesa dessa balbúrdia verborrágica que é expelida de vossas gargantas
tagarelentas e cujo fim não é outro senão somente passar o tempo em companhia
de fofocas gelatinosas [ENFIM] senhoras e senhores bem que eu poderia encampar
uma dinamitagem-bueiral na esperança de cortar vossas cabeças pensantes com um
desses disco metálicos ejetados do chão mas acreditem eu não tenho nada a ver
com o pato e se quiserem maiores informações pistas ou indícios melhor seria
conversar com o Adamastor em pessoa ou melhor com o rato...
No
próximo episódio: o Depoimento de Adamastor, o rato...
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