sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Por que os bueiros explodem? Parte II, acusação!



Parte II – O depoimento de defesa de Olegário-Alô, o empresário do ramo das telecomunicações subterrâneas, acusado do crime.

OLEGÁRIO-ALÔ:
Nobres colegas de infortúnio dessa metrópole alvejada cruelmente pelo misterioso fenômeno das tampas-voadoras-de-bueiro... venho aqui em resposta a desmerecida e ultrajante acusação que recai sobre estes meus velhos e cansados ombros que durante gerações e mais gerações se esgueiraram pelos subterrâneos desse solo que agora recebe vossos serelepes pés com o único objetivo de trançar a mais incrível moderna e ágil malha de fios telefônicos e com isso inaugurar a última palavra em modernidade telecomunicatória da qual cada um dos senhores tira proveito com seus infinitos blás-blás-blás fazendo do pobre e inocente aparelho de telefone seu alvo direto [...] Ora vejam qual proveito tiraria eu e a minha equipe de toupeiras - assim chamada porque tal como a minha pessoal mais viveu debaixo da terra do que em cima dela como agora estamos - qual proveito tiraríamos nós caso tomássemos como verdadeira essa absurda acusação de que coube a nós plantar bombas dinamitatórias no subsolo dessa cidade e com isso fazer explodir e voar as tampas de bueiro escrevendo nos anais dos desastres improváveis o curioso e misterioso fenômeno ao qual ficou conhecido desde então como o caso das tampas-voadoras-de-bueiro? Ainda se eu fosse um assassino contumaz ou um gângster foragido quiçá um assaltante de banco que encontrou nos túneis debaixo do asfalto a sua morada invisível mas não [!!!] convoco cada um de vocês para um tour no escuro das nossas galerias enfeixadas pelos fios encapados que trançados juntos formam a mais incrível moderna e ágil malha de fios telefônicos a verdadeira e última palavra em modernidade telecomunicatória da qual cada um dos senhores tira proveito com seus infinitos blás-blás-blás inúteis e capciosos tornando o pobre e inocente telefone uma vítima indefesa dessa balbúrdia verborrágica [ENFIM] convido-os todos e garanto que depois de algumas esquinas dobradas qualquer denúncia cairá por terra haja vista o meu enorme cuidado em preservar esse ainda intocável recanto de paz e sombra que repousa escondido no andar-dos-inferiores  [...] Ora vejam eu acusado de plantar bombas dinamitatórias e explosivas justo eu que desde criancinha apaixonei-me pelo subsolo e os seus encantos ah senhoras e senhores parece que foi ontem o dia em que distraído ao empinar uma pipa tropecei e fui escorregar para dentro de um poço profundo e fiquei ali na companhia solidária de alguns ratos mas não esses ratos feiosos que aparecem de vez em quando na superfície de vossas casas para surrupiar pedaços abandonados de comida não não os ratos lá de baixo portam-se como verdadeiros gentlemans e não raras vezes superam em galanteios as firulas ensaiadas pela corte real da Inglaterra [!] e como o resgate demorava a chegar qual não foi a minha surpresa quando um dos ratos de nome Adamastor veio até mim e convidou-me a um passeio pelo reino dos caminhos escondidos e eu fui é claro afinal de contas quem é que poderia recusar uma aventura por lugares nunca antes desbravados e ainda com a promessa de enfrentar desafios incríveis como o da travessia do lodo-fedorento-do-esgoto em cima de uma canoa de bambu [???] Quem iria desconfiar que a minha pessoa demoraria a sair dos subterrâneos [...] alguns já me davam por morto e que tristeza foi descobrir que uma lápide com o meu nome foi colocada no cemitério municipal com direito ao aqui jaz fulano de tal reza em latim e tudo o mais [!] porque uma coisa eu digo senhoras e senhores a vida lá em baixo é infinitamente melhor do que essa fanfarronada enlouquecida que todos vocês aguentam por aqui no teto do mundo e se eu digo isso é por conhecimento de causa afinal de contas eu vivi lá por uma infinidade de anos dessa minha vida e se hoje eu estou vivendo novamente na superfície é em razão unicamente da violenta exploração metroviária que os digníssimos ministros dos transporte insistem em empreender arrasando com toda e qualquer tranqüilidade que há séculos reinava onde antes buraco nenhum ousava ser escavado {...} agora caber a mim e a minha equipe de toupeiras - assim chamada porque tal como a minha pessoal mais chafurdou debaixo da terra do que em cima dela como agora estamos – esse ignominioso ato de violência descabida que consiste em explodir o subterrâneo com artefatos bélicos e dinamitatórios e com isso fazer explodir e voar as tampas de bueiro escrevendo nos anais dos desastres improváveis o curioso e misterioso fenômeno ao qual ficou conhecido desde então como o caso das tampas-voadoras-de-bueiro? Ainda se eu fosse um pobre diabo, um zé ninguém, um bêbado de esquina que não encontrasse outro jeito mais inteligente de empreender uma vingança da qual os senhores são bastante merecedores primeiro por furar como um queijo suíço o recanto de milhares de ratos elegantes e inofensivos para fazer passar vossos trens de alta velocidade segundo porque nunca durante minha vida recebi uma única homenagem um diploma medalha de honra ao mérito quiçá a chave da cidade pelas mãos do prefeito por contribuir de maneira tão decisiva na implementação de tão criteriosa rede de fios encapados e enfeixados banhados a ouro e que trançados juntos formam a mais tecnológica moderna e ágil malha de fios telefônicos a verdadeira e última quintessência em modernidade telecomunicatória da qual cada um dos senhores tira proveito ao zombar com seus infinitos blás-blás-blás inúteis capciosos grotescos e indigestos tornando o pobre e inocente telefone uma vítima cruel e indefesa dessa balbúrdia verborrágica que é expelida de vossas gargantas tagarelentas e cujo fim não é outro senão somente passar o tempo em companhia de fofocas gelatinosas [ENFIM] senhoras e senhores bem que eu poderia encampar uma dinamitagem-bueiral na esperança de cortar vossas cabeças pensantes com um desses disco metálicos ejetados do chão mas acreditem eu não tenho nada a ver com o pato e se quiserem maiores informações pistas ou indícios melhor seria conversar com o Adamastor em pessoa ou melhor com o rato...

No próximo episódio: o Depoimento de Adamastor, o rato...

Nenhum comentário:

Postar um comentário