quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

LINHAS QUE SE ESCREVEM...



Das coisas que resolvo dizer, o que sobra são desejos
De ter dito dizendo
Aquilo que penso escrevendo.

E na ânsia de ser por inteiro,
Um rastro longo de linhas molhadas –
Fruto de coisas não ditas, só rabiscadas.

Das palavras que logo secam,
Uma bagagem lotada de ideias vazias
Soluções magníficas para um monumento já desmoronado
Todo ele perdido no desperdício do não consumado.

Assim é a escrita, uma tragédia sabida
Pelos náufragos que dela padecem.
Senhora Filosofia de pernas onduladas
Que num difícil conhecer,
Só aos sentidos se dá a saber.

Mas se ao final é impossível fazer que diga,
Orgulhoso fico do que vejo:
Uma paisagem de traços imprecisos,
Que no todo dão à página um sentido.

E não será essa a razão que importa,
Uma obra de imagem muda
Sem tradução
Conferindo a quem a vê
A tarefa da intenção?

Que delícia é escrever para não dizer...
Inventar – depois de pouco ou nada pensar – para nada contar
Só divagar!

E nessas caraminholas sem sentido
Achar um que seja bonito
Seja para dar ao dito um colorido
Ou aos ouvidos um ruído!

Mais uma vez me satisfaço se o que faço dança na rima,
Sinal de que a caneta que compõe
Da beleza se aproxima!

Essa é a graça da vida:
Jogar o que há para o ar
E na aterrissagem das palavras formadas
Encontrar o que combinar...

Escrever para não dizer...
Só nisso já mora um universo de prazer!

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