segunda-feira, 4 de junho de 2012

Segunda feira, dia de homenagem.


Segunda feira. Segunda feira é dia de homenagens. Começo a semana sempre inspirado, com vontade de homenagear alguém ou alguma coisa. Termino a semana com vontade de chacinar quase a totalidade do contingente populacional desse planeta, incluindo os camarões. Camarões são baratas-salgadas-do-mar. Não entendo como alguém pode almoçar camarões. Comer camarões é o mesmo que enfileirar três personagens do Kafka num espetinho e servir no churrasco do fim de semana. Croc! Croc! Croc! Se não engolir as anteninhas não tem sobremesa! Sou bi-polar. Na segunda feira sou adorável. Na sexta, abominante – acabei de cunhar o termo ‘abominante’ somente em caráter gramatical de urgência para se evitar a rima inevitável com ‘adorável’ [obs: meu herói preferido dos quadrinhos é o Capitão Márvel]. Na hecatombe semanal provocada por mim, só os labradores sobrariam pra contar a história. Os labradores são inocentes. Você não é inocente, caro leitor. Se acha que é inocente é porque é o pior dos culpados. Pergunte a um labrador se ele se acha inocente. Ele não vai responder. Se acusá-lo de crime, então, receberá no máximo um lambidão em troca. É preciso muita grandeza moral para devolver um lambidão quando se é acusado de algo. Os labradores não tem culpa de nada, são praticamente madres-teresas-de-calcutá em forma de focinho e rabo. Alguém já viu um labrador no banco dos réus? Pois então, em matéria de cachorrada somos nós, humanos, os animais – e não foi que noutro dia sequestraram o Zeca, um pobre de um cachorro manso que mal se deu conta de que estava sendo alvo de um crime hediondo? Seqüestrar cães é um crime mais que hediondo. Hediondo é termo para nós, humanos. Todo humano é hediondo. Os cães são peludos. Peludos e inocentes. Os labradores são inocentes justamente porque não fazem a menor ideia que o são. Só nós temos essa mania deplorável de nos absolver – ‘todos são inocentes até que se prove o contrário’. Grande bobagem! É exatamente por respeitar a essa regra que incorremos nas mais terríveis crueldades. Em nome da inocência os inocentes derramam toneladas de sangue, sempre acusando suas vítimas de serem os culpados. Sempre foi assim. Eu faria diferente. Todos seriam culpados até que se prove o contrário. Como eu não acredito em inocentes nessa nossa espécie de sapiens, a brincadeira serviria ao menos para nos manter ocupados. Uma espécie de jogo do milhão para condenados. Se o vencedor não se salva, ao menos fica rico. Foi dessa brincadeira que surgiu a Daslu, nosso Carandiru-do-glamour [estou afiado nas rimas!] Chega de sentenças, senhores membros do júri! Hora das homenagens. Vamos então as homenagens de hoje. Segunda feira é sempre dia de homenagens! Que rufem os tambores! Pode parar de rufar, já deu! A minha homenagem de hoje vai para o Rio. Não o rio Tietê. Pinheiros também não. O Aricanduva eu não sei nem onde fica, embora tenha fortes suspeitas de que o budum deste não foge a regra dos outros dois. Será que o rio Aricanduva tem algo a ver com o bairro Aricanduva? Se tiver, pura coincidência. O meu troféu de hoje não vai para nenhum rio fedorento, vai para o Rio de Janeiro – se bem que da última vez em que lá estive a fragrância da cidade passava longe dos aromas de Paris. Nunca fui a Paris, mas disseram-me que se há alguma cidade nesse mundo fedorento que não fede, essa cidade é Paris. Coitada de Veneza, um esgotão a céu aberto – sorte que as gôndolas salvam tudo. Não as gôndolas de mercado, as que bóiam. Bote umas gôndolas navegando no Tietê que o fedor vira charme. Já não disse antes que tudo nessa vida é uma questão de charme? Mais importante que a inteligência, é o charme a locomotiva do sucesso. Ou vai me dizer que você acha o Silvio Santos inteligente? Tire-lhe o laquê do topete que o seu império desmorona, levando o Bozo e o Chaves junto. E você, caro leitor, qual é o seu charme? Depois você responde, agora não dá! Vá fazer o favor de interromper o raciocínio da senhora sua avó! Comigo é assim: pá pum! Que entrem os trompetes! A homenagem de segunda feira vai para o: Rio de Janeiro... não digo que nunca irei homenagear o Tietê ou o Pinheiros (O Aricanduva não sei onde fica), mas se o fizer agora irei parecer uma capivara nostálgica, dessas que com olhos marejados recordam seus ancestrais nadando de braçadas por debaixo da ponte das Bandeiras. Hoje, coitadas das capivas, só dá pra apostar corrida pulando de sofá em sofá e com um pregador no focinho. Já reparou, caro leitor, que a capivara é um bicho que todos querem bem? Mesmo sem nunca antes termos dado de comer a uma capivara ou sequer afagado o seu cocuruto, consideramos a capivara um bicho do bem. Ainda que um rato-gordo, a capivara nos gera um terno sentimento afetivo. E sabe por que? Justamente por causa do tamanho. O tamanho a deixa aprazível aos olhos humanos. O tamanho a absolve da nojeira de seu parente intruso, a ratazana, e a eleva ao status de roedor admirável! E o que os dois, a ratazana e a capivara, tem de tão diferente? Nada, excluindo a participação da capivara naquele famoso filme ‘Querida, aumentei o ratão’, ambos se solidarizam nas sequências genéticas que carregam. Isso me leva a pensar que o equívoco, quando elevado a proporções homéricas, vira imediatamente motivo de admiração. Quando o erro se torna gigantesco ele se emenda, pode reparar. E isso acontece também com as figuras humanas. O duro da vida é esse contingente de funcionários públicos, verdadeiros camundongos que não fazem outra coisa senão correr para dentro de suas tocas depois de beliscar um pedaço de queijo preso na ratoeira. Funcionários públicos, em sua grande maioria, são burocratas pequenininhos que contaminam a vida alheia com equívocos miseráveis. A podridão da máquina não está nas suas grandes engrenagens, mas nos pequenos parafusos defeituosos que a sustentam. Hitler era um doido, mais demente que o próprio era o contingente de anônimos que o saudava quando o bigodinho escovado do chefe passava em revista.  Agora, veja o Cachoeira! Esse não! Um pilantra brilhante! Quase um personagem de blockbuster americano! Antes todos seguissem o exemplo desse cafajeste! O mundo seria muito melhor. O Cachoeira é a capivara do crime. Eu prefiro me equivocar ao extremo a ter de carregar pedacinhos de queijo para dentro da minha toca. O mundo de hoje exige a presença dos grandes personagens equivocados, já que os heróis ficaram para trás desde a aposentadoria da franquia do super-homem. Falando em herói, lembro de belos exemplos. E belos exemplos exigem palmas. Não há homenagem sem palmas. Mas agora já está tarde demais. Deixemos para amanhã o nosso Rio de Janeiro!

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