quinta-feira, 14 de junho de 2012

Os palhaços tristes da história!



Quando os soldados da força policial O*O levaram para a forca a dupla de palhaços engraçados, o general Hilário-Rabuja comia tranquilamente um sanduíche de mortadela no sofá da sua casa. Buurp, foi o som do seu arroto. A regra que vigorava era clara: quem risse ou fizesse rir, virava presunto. Nessa sessão de frios, triste congestão tiveram as hienas da África, obrigadas a engolir sua ironia e migrar para um campo de falta de concentração na ilha de Cuba, onde mais tarde morreriam de rir do ditador bigodudo que fumava há séculos o mesmo charuto de folha de uva. Bingo! O comunismo estava por trás de tudo! Como sabemos? Descoberta fartamente documentada pelo agente Ethan Hunt que adentrou as fronteiras do politburo russo para flagrar Stalin seriíssimo, ensaiando secretamente a coreografia do ‘ai se eu te pego aiai’. Palhaçadas? Só para desertores do movimento. Em terra de revolucionários, quem move os lábios para cima sai da fila e vira traidor da pátria. E o povo? Quem tem por pai bufões barbudos, sisudos e tristes, jamais deve rir! Desrespeito mortal! A revolução que faria o proletariado subir ao poder não permitia nenhuma piada. O primeiro capítulo do manifesto dizia de forma peremptória que era dever de todo camarada de bem fechar a cara, armar-se com sua foice e martelo e ceifar todo e qualquer soluço involuntário que brotasse bem lá no âmago da região abdominal. Onde? Cientistas políticos da China de Mao investigaram meses a fio a região íntima responsável por dar origem ao impulso pecaminoso da ironia. Após passar pelo território dos gemidos orgiásticos do ponto G – sem gozar! -, chegou-se finalmente a conclusão de que o riso eclodia em alguma localidade diafragmal entre o umbigo e o apêndice cartilaginoso das costelas, mais conhecido no linguajar medicinal como processo xifóide. Bingo²! Era lá mesmo que o veneno se aninhava, dentro de uma concavidade gástrica, oca e escura, longe das sinapses iluminadas do intelecto pragmático! Triste confusão. Alguns espiões da KGB confundiram o diagnóstico com dor de barriga, metralhando uma série de inocentes que corriam desesperados em busca de um banheiro público na Praça Vermelha! Os laxantes foram recolhidos das farmácias em caráter de urgência até que todo o equívoco fosse esclarecido. Nenhum camarada queria correr o risco de ser pego pelo rabo e entrar para os anais da traição como alguém que só fez merda na história revolucionária. Burrrrp, nova interferência vaporosa de nosso general Hilário-Rabuja. Ai de mim! Tragédia sem graça! E por falar em Aristóteles, o companheiro Karl, Karl Marx, tratou logo de confiscar o tratado que o filósofo escrevera sobre o gênero cômico, fazendo sumir, inclusive, a máscara sorridente que fazia par com sua gêmea triste, ambas formando até então o símbolo milenar do teatro. Nada de emoções baixas, agora só a catarse vigorava! Aristófanes e Moliére entraram para a lista de procurados da justiça, cujas cabeças vivas valiam algo em torno de um pacote de Café Pilão para socializar com a família. As recompensas eram polpudas e sedutoras, justamente para se evitar o contágio com o escárnio capitalista. Toque de recolher geral! Rapidamente todos os sacos-de-risada foram confiscados das lojas de brinquedo, deixando milhares de crianças chupando o dedo. E por falar nessa fase etária nefanda, comumente associada à troça e zombaria, foi designada a cada família uma máscara de ferro para ser acoplada ao rosto juvenil, de modo a evitar qualquer sinal físico de achincalhe sardônico que viesse a atrapalhar a árdua batalha do partidão. Mais tarde toda essa classe infantilóide iria amadurecer, agradecendo aos seus parentes obtusos a chance de ocupar cargos burocráticos no funcionalismo público da máquina estatal. Quem não gostaria de virar um funcionário público e carimbar despachos do grande pai até o fim dos seus dias? Foi a partir dessa experiência incrível que Kafka homenageou o progresso humano ao psicografar sua obra-prima ‘O Processo’. Buuuurp. Enquanto o general Hilário-Rabuja assistia pela televisão a prova inconteste de obediência dos norte-coreanos ao seu líder recém morto, mestre Lin-Kiu-Ping-Pong, aqui, nos trópicos do ocidente, o exército da chanchada-careta decretava a lei do bullying mental, convocando a todos para marchar na Paulista em homenagem ao enorme progresso do cabresto do intelecto. O povo unido, jamais será vencido! 

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