Quando os soldados da força policial O*O levaram para a
forca a dupla de palhaços engraçados, o general Hilário-Rabuja comia
tranquilamente um sanduíche de mortadela no sofá da sua casa. Buurp, foi o som
do seu arroto. A regra que vigorava era clara: quem risse ou fizesse rir,
virava presunto. Nessa sessão de frios, triste congestão tiveram as hienas da
África, obrigadas a engolir sua ironia e migrar para um campo de falta de
concentração na ilha de Cuba, onde mais tarde morreriam de rir do ditador bigodudo
que fumava há séculos o mesmo charuto de folha de uva. Bingo! O comunismo
estava por trás de tudo! Como sabemos? Descoberta fartamente documentada pelo
agente Ethan Hunt que adentrou as fronteiras do politburo russo para flagrar
Stalin seriíssimo, ensaiando secretamente a coreografia do ‘ai se eu te pego
aiai’. Palhaçadas? Só para desertores do movimento. Em terra de
revolucionários, quem move os lábios para cima sai da fila e vira traidor da
pátria. E o povo? Quem tem por pai bufões barbudos, sisudos e tristes, jamais
deve rir! Desrespeito mortal! A revolução que faria o proletariado subir ao
poder não permitia nenhuma piada. O primeiro capítulo do manifesto dizia de
forma peremptória que era dever de todo camarada de bem fechar a cara, armar-se
com sua foice e martelo e ceifar todo e qualquer soluço involuntário que
brotasse bem lá no âmago da região abdominal. Onde? Cientistas políticos da
China de Mao investigaram meses a fio a região íntima responsável por dar
origem ao impulso pecaminoso da ironia. Após passar pelo território dos gemidos
orgiásticos do ponto G – sem gozar! -, chegou-se finalmente a conclusão de que
o riso eclodia em alguma localidade diafragmal entre o umbigo e o apêndice
cartilaginoso das costelas, mais conhecido no linguajar medicinal como processo
xifóide. Bingo²! Era lá mesmo que o veneno se aninhava, dentro de uma
concavidade gástrica, oca e escura, longe das sinapses iluminadas do intelecto
pragmático! Triste confusão. Alguns espiões da KGB confundiram o diagnóstico com
dor de barriga, metralhando uma série de inocentes que corriam desesperados em
busca de um banheiro público na Praça Vermelha! Os laxantes foram recolhidos
das farmácias em caráter de urgência até que todo o equívoco fosse esclarecido.
Nenhum camarada queria correr o risco de ser pego pelo rabo e entrar para os
anais da traição como alguém que só fez merda na história revolucionária.
Burrrrp, nova interferência vaporosa de nosso general Hilário-Rabuja. Ai de
mim! Tragédia sem graça! E por falar em Aristóteles, o companheiro Karl, Karl
Marx, tratou logo de confiscar o tratado que o filósofo escrevera sobre o
gênero cômico, fazendo sumir, inclusive, a máscara sorridente que fazia par com
sua gêmea triste, ambas formando até então o símbolo milenar do teatro. Nada de
emoções baixas, agora só a catarse vigorava! Aristófanes e Moliére entraram
para a lista de procurados da justiça, cujas cabeças vivas valiam algo em torno
de um pacote de Café Pilão para socializar com a família. As recompensas eram
polpudas e sedutoras, justamente para se evitar o contágio com o escárnio
capitalista. Toque de recolher geral! Rapidamente todos os sacos-de-risada
foram confiscados das lojas de brinquedo, deixando milhares de crianças
chupando o dedo. E por falar nessa fase etária nefanda, comumente associada à
troça e zombaria, foi designada a cada família uma máscara de ferro para ser
acoplada ao rosto juvenil, de modo a evitar qualquer sinal físico de achincalhe
sardônico que viesse a atrapalhar a árdua batalha do partidão. Mais tarde
toda essa classe infantilóide iria amadurecer, agradecendo aos seus parentes
obtusos a chance de ocupar cargos burocráticos no funcionalismo público da
máquina estatal. Quem não gostaria de virar um funcionário público e carimbar
despachos do grande pai até o fim dos seus dias? Foi a partir dessa experiência
incrível que Kafka homenageou o progresso humano ao psicografar sua obra-prima
‘O Processo’. Buuuurp. Enquanto o general Hilário-Rabuja assistia pela
televisão a prova inconteste de obediência dos norte-coreanos ao seu líder
recém morto, mestre Lin-Kiu-Ping-Pong, aqui, nos trópicos do ocidente, o
exército da chanchada-careta decretava a lei do bullying mental, convocando a
todos para marchar na Paulista em homenagem ao enorme progresso do cabresto do
intelecto. O povo unido, jamais será vencido!
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