(Play) O Rio de Janeiro continua liiiiindo. Alô, alô
Terezinha... (Pause) Tchuru ru ru. Aquele abraço, caro leitor. Quem vos fala é
o jovem guerreiro (velho é a mãe!), aquele jovem que teve a brilhante e mal
gerida ideia de vos escrever algo uma vez ao dia. E só escrevo unicamente para
satisfazer vossa lacuna diária de poesia. Do contrário, desistiria já. Sou
altruísta! Preocupo-me com você. Se é para o bem geral de todos e felicidade
geral da nação, eu fico! Eu sou um poeta! Sirvo-te, pois então. Aquele abraço a
todos que me lêem. Não mando beijo porque beijo não tá na música. E também eu
não te conheço a ponto de sair beijando. Um abraço já está de muito bom
tamanho. Nada de chororô, sinta-se feliz. Afinal, também não saio abraçando
todo mundo, só abraço gente como você, que lê meu blog. E você não está
sozinho. Praticamente toda uma China comunista lê o meu blog. Sou o único
blogueiro autorizado pelas autoridades do Xing-Ling a desbravar as terras
virtuais do Mao Tsé-Tung, eu e o Marco Polo. A única exigência é que eu
continue a escrever em português. Aceitei! Não sou bobo nem nada. Mas chega de
peripécias onomatopaicas e vamos direto aos eufemismos metafóricos que recheiam
de conteúdo esse périplo intelectual. Ontem prometi uma homenagem ao Rio de
Janeiro, mas foram tantas emoções... aliás, está aberto o concurso de seleção de
terroristas para afundar com torpedos nucleares o cruzeiro do Roberto Carlos no
próximo verão. Para quem não for classificado na primeira lista, haverá uma
repescagem para garantir vaga no coral que entoará o ‘Jesus Cristo eu estou
aqui’ enquanto o Rei afunda com a embarcação. Pobre Celine Dion, perdeu o
trono. Vamos ao que importa. Havia reservado uma homenagem ao Rio de Janeiro
para ontem. Não deu certo. Me enrolei. E como hoje é terça e terça nunca é dia
de homenagens, permaneço com o tema e abandono a homenagem. Ao invés de
confetes e purpurinas, vou de chuva ácida! O Rio de Janeiro é um negócio que
nunca vai dar certo. Alguém duvida? Calma lá! Não falo dos cariocas! Os
cariocas são vítimas. Vítimas de um estigma maligno que envenena o solo
fluminense. Uia! Falei agora como um arauto de tragédia grega! Mas a tragédia
de hoje é em terra tupiniquim. Na verdade, não é a terra propriamente o local
onde o problema se encontra. Ao contrário. A encrenca galgou morro acima e foi
se instalar no topo da montanha. No topo desse nosso Olimpo-de-bananas
encontra-se o Cristo Redentor! É o Cristo Redentor, senhores, a figura que
empaca a vida dos habitantes da baía de Guanabara. Explico. Não é possível uma
cidade dar certo quando um respeitável sujeito de pedra-sabão se posta
dignamente no corcovado para lá de cima gritar com seu vozerio à La Cid Moreira
aos anõezinhos cá de baixo: ‘Liberô geral, meu povo!’ Sim, porque é exatamente
isso o que acontece quando o Divino abre os braços. Se Ele não abrisse os braços
o Rio de Janeiro estaria a salvo. Mas Ele abre. Um abraço da condenação. Uma
atitude altamente reprovável quando o alvo é a humanidade. E o que mais me
deixa indignado é ter eu, um pobre mortal, a obrigação de alertar o Criador do
seu retumbante equívoco! Será que Ele já se esqueceu do que diz o oitavo pecado
capital? Lembro-te, ó Senhor! O oitavo pecado capital é justamente esse:
‘jamais sejais condescendente com a pilantragem do próximo.’ E afinal não é
isso o que acontece? Basta um condenado cometer alguma infração para depois
olhar pra cima e se sentir absolvido pelo terno abraço do Cristo. É esse abraço
redentor que rebenta com a vida dos cariocas. A pilantragem é tão deslavada na
terra do Chacrinha que não há pudor algum em se expor publicamente as
vergonhas. Os pecados vestem tangas no Rio de Janeiro. Os vícios se enfiam no loló
tal qual shortinhos das popozudas do funk. E quem de vós, caros leitores, é
capaz de achar alguma solução para quem gosta de um pancadão? Não! O funk é a
UTI do mundo. Morte cerebral! Morte cerebral sem qualquer possibilidade de
doação de órgãos! Quem aceitaria receber um coração bate-estaca-do-tigrão? Tudo
podre! E assim, cada um é convidado a rebolar suas desmoralidades na praia do
tudo-vale! Não é a toa que ‘Vale-Tudo’, a novela, também tinha como cenário o
Rio de Janeiro. E além disso tem essa coisa do corpo malhado na academia. O
vício é tão idolatrado que precisa ser talhado para virar motivo de orgulho. Já
que é para mostrar os pecados, que eles estejam então bem definidos e visíveis!
Tudo por culpa de um abraço que vem lá de cima! Alô, alô Terezinha... aquele
abraço! Lembra, caro leitor, daquele filme fatalista chamado ‘2012’? Nesse
filme há uma cena em que o Cristo Redentor aparece desmoronando. Hollywood
queria falar do fim do mundo e acabou dando a solução para o Rio de Janeiro. Porque
assim não dá! Ou alguém acredita que depois das Olimpíadas o Rio de Janeiro vai
se emendar? Eu não acredito! Só acredito nessa redenção quando o Redentor vier
abaixo. Abaixo ao Redentor! Não sei nem porque faço essa campanha! Não moro no
Rio de Janeiro. Não sou carioca. Não moro no Rio de Janeiro nem sou carioca.
Mas sou sensível a dor alheia. Sou um poeta de sensibilidade à flor da pele.
Veja, não digo que não haja pilantragem aqui onde eu vivo. Ao contrário. Aqui a
pilantragem corre solta. Talvez haja mais pilantragem aqui do que no Rio de
Janeiro. Eu mesmo sou um pilantra. Mas aqui os procedimentos de fabricação da
pilantragem são diferentes. Diferentes e mais dignos da nossa imagem de bons
moços. E nessa vida, imagem é tudo. Em matéria de sacanagem os procedimentos
são tudo! A sacanagem aqui é de gabinete, muito mais educada, refinada e
condizente a um filho pródigo que não precisa recorrer a abraço redentor algum.
Ao invés de abraçar o Salvador, fuzilamos o vizinho. É um método mais avançado
de civilidade. Mais avançado justamente porque o Divino está bem longe. É isso
que nos salva. Aqui não existe o famoso ‘cada um por si e Deus por todos’. Aqui
preferimos o ‘cada um por si’ e Deus que se manque! Jamais o vício veste sunga
por aqui. Aqui encobrimos nossa vergonha com terno e gravata. Uma vestimenta
muito mais sofisticada. Quanto mais sofisticação, mais pecados hediondos. É isso!
Os pecados do Rio de Janeiro pertencem a pré-escola da cafajestagem, não tem
qualquer glamour, são de fácil condenação. É por isso que o Rio de Janeiro vive
patinando na vitrine da corrupção de botequim. Quem elege um Garotinho e uma
Rosinha como governantes não pode estar falando a sério! Aqui preferimos um
Maluf! Maluf é um nome que carrega uma dignidade infinitamente maior. Maluf é
árabe. Todo árabe merece respeito, por mais pilantra que seja. Não se come uma
esfiha de boca aberta, repare! Maluf é um Don Corleone. Garotinho e Rosinha são
companheiros do Bob Esponja. Aqui, longe do Rio de Janeiro, somos muito mais
civilizados. Mas essa não é uma característica intrínseca a nós. Não, não. Só
chegamos a esse patamar de evolução porque não tivemos contra nós um Divino de
braços abertos. Aqui não há Cristo Redentor. Ninguém acredita em redenção por
aqui. Somos canibais mesmo, sem fingir absolvição. É isso que falta ao Rio de
Janeiro para se emancipar. Nenhum monumento no mundo é tão ultrajante como o
Cristo Redentor. A estátua da liberdade aponta a tocha para cima num gesto de
‘para o alto e avante!’. A torre Eiffel é uma esfinge de sobriedade metálica. A
própria esfinge do Egito é um gatão sem nariz. Nenhum deles dá a mínima para os
seus habitantes. Não há condescendência possível. O erro do Cristo Redentor é
olhar para baixo e abrir um abraço, dizendo: ‘vinde a mim, ó criancinhas’. Alô,
alô torcida do flamengo: aquele abraço! Eu gosto da terça feira porque na terça
feira eu me dou o direito de praticar minha acidez. Sou ácido. Ácido e
pilantra, como já disse. Quer uma prova? Hoje não, amanhã. Amanhã lhe dou uma
prova irrefutável da minha pilantragem ácida. Quarta feira é dias das provas
irrefutáveis. Hora de estudar para a prova de amanhã. Até lá...
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