Quando a comitiva de anões da ONU – Organização dos Nanicos
Ultramarinos – aportou na baía de Guanabara, já era tarde demais. Os ursos
polares já tinham dominado as dependências do Piscinão de Ramos e almoçado
todos os funkeiros que por lá rebolavam. Na falta de focas albinas no cardápio,
foram de tchutchucas e tchuchucos. Embora um pouco salgada demais, a carne
mostrava-se tenra e macia. O único inconveniente, segundo os próprios
consumidores, estava na fase da digestão, constantemente interrompida por um desconforto
abdominal que chamavam de pancadão-do-tigrão. O aquecimento global havia
chegado ao seu limite máximo, de forma que já não era mais possível encontrar
em parte alguma nem mesmo um par de pedrinhas de gelo pra mergulhar na
caipirinha. O êxodo polar se deu de maneira bastante comovente, com toda a
população restante de ursos, focas e raposas cantando em coro o ‘adeus amor eu
vou partir’ numa jangada próxima a costa do Canadá. O evento foi transmitido ao
vivo pela Globo, com trilha sonora da Celine Dion. A verdade é que a
repercussão global foi tamanha, criando-se inclusive um programa humanitário
batizado de ‘Foca Esperança’ para arrecadar fundos, que alguns
náufragos-da-geladeira acabaram sendo adotados por uma comunidade de fazendeiros
do Texas, o que exigiu a imediata tosa dos casacões de pele. Mais tarde se
soube que o comércio de lã para o fabrico de cachecóis havia ultrapassado a
famosa indústria agropecuária do local, tornando o Texas o maior exportador de
vestimentas para inverno do mundo inteiro. Quem nunca viu o outdoor mostrando o
Bush tremendo de frio, com a cabeça enfiada num baita gorro de pom-pom rosa de
pelo de urso? Os órfãos do ártico que permaneceram no Texas acabaram
constituindo família e se acostumando com a nudez, inaugurando dali a pouco
tempo a primeira praia nudista para ex-ursos polares do planeta. Grande parte
do contingente de focas preferiu migrar para a Finlândia. Os vikings prometeram
receber as novas inquilinas com um belo par de chifres na cabeça. Quem não
gostou nada disso foram os alces canadenses, que tiveram de permanecer onde
sempre estiveram, ruminando a mesma grama verde de sempre. A relação entre os
Vikings e as focas deu tão certo que hoje é comum fazer um sinal de chifres na
cabeça quando se pede para alguém focar direito naquilo que está fazendo. E
quanto ao Brasil? O destino tupiniquim está envolto em uma série de mistérios.
Reza a lenda que um agente de turismo corrupto convenceu os sem-teto-do-frio de
que o Brasil seria a terra do futuro, prometendo que em breve o país
desenvolveria uma economia fortíssima capaz de construir geradores potentes que
fariam nevar em cada canto da nação tropical (só deu certo da serra
catarinense). Somado a isso o fato de que o Brasil estava confirmado como a
próxima sede dos jogos de inverno, os ursos-polares deliberaram entre si,
chegando à conclusão de que valia arriscar o passaporte. Se a Bahia não fosso
tudo aquilo, ao menos dava para treinar patinação no lago da Pampulha e
representar o novo lar com brio na competição que se avizinhava. As raposas
gostaram tanto da ideia que formaram uma excursão só delas para construir uma
nova cidade no planalto tupiniquim. Batizada de Brasília, o local hoje abriga
um zoológico gigantesco de espécies raras de homo-sapiens, todos vestidos de
terno e gravata, cujo hábito mais impressionante é o de falar, falar e falar e
não se chegar à conclusão alguma. Pior destino tiveram os pingüins imperadores
da Antártida. Depois do desgelo do seu território, foram sumariamente
escravizados por uma companhia de cerveja, sendo só dois deles aproveitados
para servir de propaganda no rótulo da bebida. O que ocorreu com o restante é
demasiadamente triste, um verdadeiro holocausto pinguinal, sob as ordens de um
general maluco que não via outra solução para o planeta a não ser preservar a
pureza genética dos gafanhotos das Ilhas Maurício. Enfim, quando a comitiva de
anões da ONU – Organização dos Nanicos Ultramarinos – aportou na baía de
Guanabara, a coisa toda já tinha ido toda por água abaixo... só restando o
Redentor em cima do monte, cujos braços abertos serviam de bóia salva-vidas
para os poucos micos ainda vivos...
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