Quer ser professor? Dica valiosa: tenha um bigode. A relação
é direta. O bom professor deve necessariamente apresentar um bigodão logo
abaixo do nariz. Bigode no andar debaixo do cheirador? Não me diga? Afinal, em
qual outro recanto desse nosso sítio cutâneo poderia haver abrigo para o senhor
bigode? Caso tenha pensado em alguma pornografia o problema é todo seu, caro
leitor. Eu estou preocupado com o espiritual. O corpo não vale o investimento,
a terra há de comer – já pensou o tamanho do banquete que os vermes hão de
fazer quando chegar o dia de jantar o loló da Rita Cadilac? Por isso que eu
faço questão de afinar regularmente o meu esqueleto. Não dou alegria pra
ninguém em vida, vou agora virar motivo de homenagem no túmulo? Se bem que todo
morto vira santo. Todo morto é aplaudido de pé. Até verme vai à missa de sétimo
dia com o terço na mão. E basta um canalha morrer pro papa abrir um processo de
beatificação. Se o Cachoeira empacota, o pontífice o transforma em chafariz de
água benta no instante seguinte! E a fonte-santa vira ponto de peregrinação,
com milhares de fieis andando em volta aos gritos de ‘Aleluia ó H²O do
Olimpo!’. É por isso que a indústria dos santos anda de vento em popa mesmo em
tempos de crise. Presunto não liga pra crise alguma. Presunto continua saindo
que é uma beleza. E todo presunto vira santo. Sorte dos porcos que devem ter um
chiqueiro só deles no céu. Mas chega de humor-de-presunto! Brás Cubas é infinitamente
mais talentoso nesse quesito do que esse humilde servo das letras-pagãs que vos
fala. Como ia dizendo, professor que é professor estampa um bigode no focinho.
O bigode é um atributo corporal, correto, mas é ao mesmo tempo a ponte para o
espírito. O bigode é a carta de alforria do sujeito preso à ignorância. O
bigode é o elixir filosófico, a passagem secreta entre o terreno e o
supra-sensível, o cartão vip que dá acesso ao camarote do Oráculo de Delfos.
Não há por onde fugir, caro candidato ao magistério, se quiser ser professor,
embigode-se! Mas atenção! Cuidado com o cavanhaque! O cavanhaque poderá levá-lo
a outra profissão num estalo de dedos. Motoboys tem cavanhaques. E nenhum
professor vai querer associar sua nobre causa com o delivery do Habibs. O
professor é o arauto do saber, não o mensageiro da esfiha. Se bem que dependendo
do professor qualquer mesa de bar chinfrim vira estágio em Harvard. Nesse caso,
quando o estômago vence, quase sempre a culpa é do mestre, que inadvertidamente
se esqueceu de estampar o bendito do bigode. O bigode é a vestimenta moral, o
anel de Nibelungo do saber, a pedra filosofal dos boletins acadêmicos. A
gilete, por sua vez, é criptonita do corpo docente, a encruzilhada da reputação
abstrata, o juízo final da emancipação do espírito. Não há nada pior do que um
professor ver a sua reputação ser colocada em xeque. Para evitar tal
inconveniente, não hesite em deixar crescer sua palhoça acima do lábio
superior. Não é bobagem o que digo, caro leitor. Um homem de cara lavada não é
respeitado pelo que sabe, pode reparar! Pode até ser o Einstein, mas se tiver a
cara limpa, fracasso total, não imprime respeito algum. Einstein, aliás, era um
emérito representante da bigodície científica. Tire-lhe o bigode e o E=MC² vira
domínio público. Insisto. Com o bigode tudo se altera. Até uma
anta-onomatopaica ganha mais respeito quando se embigoda. Entre numa sala de
aula com um bigode e imediatamente conseguirá discorrer sobre os mais variados
temas, desde o imperativo categórico de Kant, passando sobre os perigos e
vantagens do uso sistemático do acelerador de partículas da física nuclear e
até sobre qualquer outra coisa que faria um ganhador do Nobel render-lhe
reverências. Eu tenho bigode. Não sou bobo nem nada! Agora, como ficam as
mulheres nessa história de pelos faciais? Elementar minha cara mulher barbada
do circo. Aquelas que não tiverem um buço para valorizar devem recorrer aos
bigodes postiços. A 25 de Março é mundialmente conhecida pela venda de bigodes
made-in-Taiwan. São resistentes, macios, duráveis e ainda contam com a vantagem
de poderem ser lavados e estendidos ao sol para secar – prática que deixaria
marcas vermelhonas na cara dos homens que resolvessem aderir ao hábito. Outra
coisa interessantíssima é identificar o que ocorre a uma plateia quando esta se
defronta com um polpudo bigode. Um bigode é capaz de silenciar uma feira. Se
Moisés tivesse um bigode não precisaria recorrer ao Salvador para abrir
passagem pelo Mar Vermelho. O bigode daria conta desse obséquio sem maiores
esforços. É incrível a capacidade persuasiva de um bigode. Hitler, Stalin,
Osama, Sadam e todos os malucos que já passaram pela história do nosso planeta
tinham um bigode. E isso por uma única razão: o bigode convence. Ninguém duvida
de um bigode. Pode ser o lunático que for, se carregar um bigode estará
absolvido. Quando me lembro das inúmeras tentativas de colocar por terra esses
carrascos-malucos da humanidade, constato com tristeza que ninguém imaginou a
solução mais óbvia para o sucesso na empreitada: uma navalha. Não para cortar o
pescoço, mas para aparar o bigode. O barbeiro seria o agente secreto ideal da
resistência. Mas ninguém se dá conta de perceber o óbvio. Cuidado! Não digo que
o professor deva ser um carrasco. Mas uma vez com um bigode no rosto é bom que
ele se dê conta do enorme poder de artilharia da sua taturana-narigal. Recordo
de um professor que tive. Ele era altamente equivocado, um legítimo paspalho
dentro de um terno que saia por aí vendendo fórmulas vazias de sucesso aos
alunos. Um frustrado na vida que fazia da academia o seu consultório de
psiquiatria. Pois então, não havia um desgraçado que ousasse encostar o cara na
parede e exigir a sua demissão. Tudo por conta de um bigode. O bigode desse
professor era um escudo inviolável que fazia render aplausos, nunca vaias. Mas
eu sou diferente, caro leitor. Cuido do meu bigodão por uma questão estética.
Não sou picareta. Até que me provem o contrário, não sou picareta! Mas só lhe
peço uma coisa. Não venha para cima de mim com uma espuma de barbear! Prefiro
um embate filosófico de ideias que me derrubem a ter de abrir mão do meu bigode.
Mas isso dificilmente acontecerá. Afinal, o portador de um bigode sempre vence!
Saudações bigodais!
tsc tsc...Chico ler suas reflexões é como navegar por um tipo de encenação da vida real, com uma visão privilegiada do camarote das suas proposições questionadoras...ate se sentir um ignorante filosófico e acordar como se tivesse saido de um transe profundo, recomendo mas com moderação. mto bom o texto!
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