O andarilho a que todos chamavam de o novo Buda resolveu
quebrar o silêncio e se dirigir ao povo que o seguia havia séculos. Até então
nunca tinha aberto a boca para dizer nada. Ninguém conhecia a sua voz. Subiu
numa pedra para que ficasse num plano mais alto e disse as seguintes palavras a
sua multidão de fiéis apaixonados: ‘Parem de me seguir! Não faço milagres! Tenham
a coragem de conviver com suas próprias misérias e me deixem em paz com as
minhas’. E se calou para nunca mais falar de novo. Depois do breve e
surpreendente pronunciamento, o andarilho caiu numa deslumbrante gargalhada que
o fez rolar ao chão. Divertia-se como nunca. Foi tomado como louco. Todos o
abandonaram. Depois de não sei quanto tempo experimentava novamente a sensação
de ficar sozinho. ‘Que benção’, pensou ele! Um profeta verdadeiro não deve rir.
A vida é por demais séria e perigosa para se abrir espaço a interlúdios de
loucura. Nesse instante percebeu o quanto tinha se tornado um picareta. E se
salvou.
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