sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Aqui não se filosofa, aqui só se faz farofa.
Não se reprima, caro leitor, aqui ninguém filosofa, aqui só se faz farofa. Na primeira oportunidade o sujeito dá um jeito de enfiar num tapaware um frango assado na padaria e pé na tábua dentro de uma kombi rumo ao Boqueirão da Praia Grande! Tapaware com frango e farofa, importante frisar. E se no trajeto da farofada litorânea houver um pagodinho para embalar as orelhas, ainda melhor! Porque pagode e farofa são duas metades feitas especialmente uma para a outra, ambas enlaçadas em matrimônio dentro de um Tapaware comprado numa promoção das Casas Bahia, ou mesmo feito à imagem e semelhança de um potão de sorvete napolitano da Kibon. Não é à toa que por essas bandas de cá quem manda é o frango. O frango reina por aqui porque invejamos sua qualidade ciscadora de sacolejar as penas quando lhe dá na telha, e se comemos o pobre do galináceo é menos por uma ideia de matar a fome do que pelo profundo respeito e admiração que nutrimos por sua conduta barulhenta e impertinente! Um verdadeiro ritual de antropofagia-penosa, ou melhor, frangofagia-ciscante! Ave Frango! Muito diferente do peru, sujeito de papo cadenciado que vez ou outra solta um glu-glu e só resolve dar o ar da graça uma vez por ano e olhe lá. O peru é chique demais para nós, quase um intelectual da Academia Brasileira das Penas que vive com seu pincenê a distribuir aforismos eruditos: glu-glu. Clama! Não se reprima, caro leitor, aqui ninguém filosofa, aqui só se faz farofa! E farofa combina também com pagode, haja vista que as duas coisas foram feitas para produzir barulho e esquentar a carne. O bacon tosta no meio da farinha de trigo num chiado de xingar os tímpanos, o lombo glúteo da pagodeira rebola ao som do pandeiro, fazendo suar a testa que já nasceu suada de tudo quanto é conjunto de pagode. Olha o Bóle-Bóle menina! Ah, caro leitor! Aqui tudo é uma homenagem à farofa e aos seus derivados. Veja o que acontece com o semblante dos japoneses ao testemunhar o bando de farofeiros corinthianos que aportaram por lá. Pelos domínios da terra do sol nascente não há olhinho puxado que compreenda como o homem pôde ter chegado a essa condição de ser-farofador que ao menor sinal sai por aí ciscando suas penas em favor de sabe-se lá o que. A farofa também é prima-irmã do calor, esse parente próximo que impele qualquer diabo a sair por aí cantando o ala-la-ô, arrancando cada palmo de roupa com o fim de mostrar os músculos malhados na academia. Imagine uma farofa sendo preparada no ártico para um almoço com as focas albinas... aposto que não haveria clima algum para um urso polar começar a tremer o gogó na batida do chocalho tocado pela raposa trajada com seu casaco de pele. Não caro leitor, a farofa é patrimônio nosso, desse terreno de seres esfuziantes que antes de filosofar resolvem farofar. Observe a conduta dos que pegam diariamente o nosso abarrotado e irrespirável transporte coletivo. Antes de calar frente a tragédia de virar uma sardinha enlatada, condenada a cheirar o sovaco de bacalhau do vizinho-peixão, todos parecem sacar seus instrumentos de gingado para entoar a sinfonia da fofoca, dos gritinhos, das gargalhadas e de todas as churumelas verbais possíveis e imagináveis... fosse um monge budista (totalmente contrário à dieta do frango) a primeira reação seria recolher-se num mantra silencioso, buscando salvação numa fumacinha de incenso imaginária, restrita a sua charmosa cabeça de ser filosofal! Mas não, caro leitor, aqui não há filosofia que resista ao repique do tamborim. Aqui a coisa se dá na base da malandragem, de quem rebola mais e melhor, conferindo à periferia do charme o sentido de existência... e se a coisa vai mal, antes eu me safar dela com meu gingado de passista do que lhe ensinar a concorrer em simpatia com esse meu sorriso de bronzeado de laje. Imagine um Tsunami devastando a costa brasileira... Agora imagine tentar repetir a mesma cena dos orientais depois da tragédia: todos os tupiniquins enfileirados na porta do único supermercado remanescente, pacientes em esperar a sua vez de receber um único pacotinho de miojo para satisfazer a fome mais imediata. Todos em silêncio, respeitadores da dor e do luto da comunidade... Ah, caro leitor, bora pro Boqueirão! E não vá me esquecer do Tapaware com o frango... e a farofa! ZIRIGUIDUM!
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