A política de cotas para minorias não-privilegiadas, ou privilegiadas pelo desprivilegio, ou então acometidas de algum infortúnio da ordem biológico-funcional, enfim, a coisa de acolher os desacolhidos era coisa que andava de vento e popa, e com vivas de viva à igualdade, ainda que tirada à força das idiossincrasias misteriosas impostas pelo destino, que sem chamegos de justiça, outorga a cada miserável a cota de miserabilidade que lhe cabe sem consultá-lo ou pedir anuências prévias de autorização. E foi assim, nutrido pelo espírito da boa vizinhança, que reservaram alguns assentos para portadores de audição perfeita na sala de concertos onde a orquestra, até então aplaudida unicamente pela massa surda, tocava. E foi assim que ela própria, a orquestra, foi à falência, tão brutalmente desmascarada em sua desordem rítmica que até os surdos, a partir de então, não tiveram outra alternativa senão voltar a ouvir, rogando que interrompessem os trabalhos e causando novo alvoroço, porque agora, mediante a formação de nova maioria, composta desta vez por ouvintes de orelha afiada, já segregava aqueles poucos e míseros que, afortunadamente, insistiam em permanecer surdos, e surdos tanto para aquilo que não se ouvia porque não era dado a ouvir, quanto para todo o resto de barulho, que por ser barulho - afinado ou não-, exigia ouvintes...
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