A dupla de dançarinas aquáticas Dolores & Dóris, duas
das mais destacadas nadadoras de nado sincronizado que a história haverá por
justo mérito – e por ainda muito tempo - gazetear, festejar e aplaudir (as
pioneiras Berenice & Blanche já haviam anunciado a aposentadoria das toucas,
ainda que, era regra geral admitir, dessem muito o que fazer com seu submerso
talento lírico), ambas, Dolores & Dóris, ganhadoras dos mais concorridos
prêmios referentes ao conjunto de competições aquáticas onde o nado
sincronizado representa, sem dúvida alguma, a cereja dos olhares, enfim, ambas,
Dolores & Dóris, com seus cabelos longuíssimos presos em coques besuntados
com pasta a prova d’água, cada qual espetada nos focinhos finos com um pregador
de ouro reluzente a produzir faíscas de brilho e que tapavam as narinas das
competidoras para que, uma vez de cabeça para baixo e embaixo d’água, fosse
evitado o que seria uma tragédia de âmbito nacional, ou seja, o afogamento
trágico de ambas as dançarinas aquáticas que mundo nenhum jamais viu melhores (havia
quem dissesse que as pioneiras e já retiradas Berenice & Blanche eram do
mesmo quilate das referidas Dolores & Dóris), enfim, depois daquela marcha
triunfal até a beirada da piscina, ambas feito espelho refletido uma da outra –
pernoca vai, pernoca vem: tchum, tcham, tchum -, e, finalmente, dentro d’água
após um mergulho praticamente siamês, coube observar que nenhuma delas, Dolores
e tampouco Dóris, decorridos longos minutos de expectativa, voltava à
superfície para dar início ao tão esperado número, sumindo por debaixo d’água
sem que tivéssemos qualquer notícia de que um dia, depois do estrondoso sucesso
das pioneiras Berenice & Blanche nas piscinas do circuito mundial de
competições aquáticas onde o nado sincronizado representa, sem dúvida alguma, a
cereja dos olhares, essa nova e reluzente dupla festejadíssima de dançarinas
aquáticas, Dolores & Dóris, existiu, quiçá estampou por justo mérito seu
nome nos jornais para ser gazeteada, festejada, ou aplaudida, tanto hoje quanto
amanhã e por horizontes ainda futuros. Pois o que se seguiu, em razão do sumiço
repentino de Dolores & Dóris, foi um mergulho coletivo atrás de ambas as
dançarinas aquáticas, primeiro o técnico artístico responsável pela coreografia
do balé submarino, o Sr. Bolaños, que uma vez na água também nunca mais emergiu
aos vapores da superfície, gesto repetido por toda a audiência que, enciumada
pelo ato de coragem piedosa uns dos outros, cada qual em seu termo, atirou-se
piscina adentro para o silêncio eterno das profundezas misteriosas, só restando
para a continuidade da competição a bancada de jurados, que por não saber
nadar, resistiu ao ato de bravura coletiva e permaneceu onde estava, em
testemunho fiel ao epílogo funesto de tantos aqueles que, contaminados pelo
alvoroço geral, meteram-se a sumir junto com a dupla de dançarinas aquáticas
Dolores & Dóris, ambas postas no pódio da história como as herdeiras das
pioneiras Berenice & Blanche...
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