Era uma vez um escritor que, diferentemente dos escritores de seu
tempo, sabia que era ele um escritor condenado a viver nos piores tempos
imagináveis para que um escritor, como ele efetivamente o era, desse o
azar de viver. Morreu. E muito tempo depois apareceu outro escritor que,
convicto que estava de ser ele o mais azarado dos escritores, e
entendendo, diferentemente dos escritores de seu tempo e dos tempos já
passados ou futuros, que
aqueles tempos
que corriam agora eram, sem dúvida nenhuma, os piores possíveis para que
um escritor, como ele efetivamente o era, praticasse a arte da escrita.
Morreu. Outro escritor veio e, numa geração seguinte de escritores que
enchiam laudas de papel impunemente, nutriu-se ele próprio dessa
convicção que era, para sua desgraça e infortúnio, a sua triste
maldição: ser ele o escritor que teria de lidar com a mais nefasta época
que se poderia imaginar para que se viesse ao mundo e fizesse dele
algum possível argumento de escrita. Morreu. E assim, por capricho do
destino e sorte do acaso, a mesma história vem acontecendo
repetidamente: vez ou outra o mundo dá a sorte de abrigar entre os seus
aquela ovelha negra que, diferentemente das outras de lã alva e fofinha e
que se empanturram de capim até embalofarem, mastiga com amargor o
produto da abundância dos dias...
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