Havia esse misterioso país que ninguém sabia ao certo onde no mapa deitava suas fronteiras, tampouco sobrando registros comprovados de que alguém por lá tivesse visitado os seus domínios, conversado com o seu povo, anotado detalhes geográficos, topográficos ou climáticos, quiçá conhecido a língua de comunicação entre os seus habitantes e qualquer outra espécie de testemunho fotográfico ou documental de que, de fato, o tal país existia para além dos boatos de que havia em algum lugar esse dado pedaço de terra onde era por hábito praticar uma intrigante e jamais vista engenharia de controle populacional. Fruto do conto da carochinha ou não, a curiosidade, em compadrio com a imaginação, vence por pontos a batalha com raciocínio lógico e, esfumaçando a divisória entre o que é real com o perfume da fantasia, absolve-nos de qualquer provável devaneio para dizer que o tal mecanismo referido consistia em levar a público um determinado compatriota para que, diante de um microfone apontado para a praça abarrotada de populares, pudesse ele, enfim, dizer algo de relevante – qualquer coisa que fosse! - aos que lá se reuniam para ouvi-lo. E, como era praxe nunca haver nada de importante para chamar a atenção de tanta gente quieta e com as orelhas atentas, o orador, sempre sorteado a esmo, era, portanto, levado à degola. E assim, em escassez de palavras justas ou novidades importantes, a demografia mantinha sua saúde em perfeito equilíbrio, ceifando do seu quadro de funcionários tantos quantos emudeciam – ou quando ousavam dizer aquilo não valia a saliva de tê-lo dito -, todos pobres azarados, sorteados pelo destino, em condenação por absoluta falta de conteúdo.
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