Em virtude da recente e não anunciada escassez de idiotas no
mercado de varejo, saíram correndo às ruas à procura de alguém que se prestasse
a ser o novo idiota do momento, alguém com potencial inequívoco para a
idiotice, que talhasse aquele perfil idiota típico dos aspirantes ao trono dos
idiotas, um não-se-sabe-quem com certo rebolado idiota que se encaixasse aos
padrões idiotas, e, sobretudo, alguma alma de eminência idiota que suportasse
contente a carga de festejos, apupos hormonais, e toda a sorte de uivos coletivos
que só aos idiotas verdadeiros é dado receber, e disso fazer a sua razão idiota
de vida. Pois encontraram aquele a quem vislumbravam futuro tão promissor e
imediatamente interpelaram o candidato com a pergunta já prenhe de expectativas,
a saber, então, se ele aceitaria tornar-se um completo idiota para o bem
completo de todos os que ansiavam pela eleição do mais novo idiota do momento,
e por qual motivo eu aceitaria tornar-me um idiota, perguntou de volta o
interpelado, ora, veja bem, o senhor já é praticamente um idiota completo, o
que lhe falta é um trabalho mais efetivo de marketing, de venda da sua imagem
para que os outros possam conhecer do senhor tudo o que é preciso que conheçam,
e assim, portanto, lhe render as admirações e aplausos que só os idiotas
verdadeiros em sua prática ininterrupta de idiotices diárias são alvo, e o que
isso traria vantagens para mim, retrucou o quase convencido a tornar-se o novo
idiota do momento, vantagens inúmeras, a começar por arrancar fora da sua
pessoa qualquer qualidade de crise ou pensamentos nebulosos que possam por
ventura vir a esfumaçar essa sua consciência de tendências idiotas – note que
todo idiota que se preste a ser o que realmente mostra ser, ou seja, um retumbante
idiota, é sempre dotado de uma alma translúcida e cristalina, quase feita do
mesmo material dos cristais das lojas de taças de cristais – a assim alumiar-se
sem medo da luz solar, e para que todos possam o ver naquilo que você realmente
sente e mostra sentir, ou seja, dar ao conhecimento alheio todo um repertório
vazio de frases feitas e de clichês já mastigados por não sei quantas outras
mandíbulas – note que o verdadeiro e completo idiota é sempre esse arauto da
voz pública, um legítimo representante do matraquear anônimo da massa sem rosto
– e dessa forma, então, cair nos braços daqueles que estarão preparados para
carregá-lo até o lugar em que você disser que deseja estacionar, ainda que esse
lugar seja o inferno. E além de tudo isso, saiba que o idiota com carteirinha
de idiota, para além de todas as vantagens citadas, exala também o raro perfume
do charme, esse elixir que faz levitar as narinas dos que tem narinas para
cheirar mas que nunca souberam, ele próprios, vaporizar pelos sovacos o aroma
que tanto admiram, porque o idiota é exatamente isso, a projeção estúpida e
idiota daquilo que os outros, por falta de tarimba ou disciplina para galgar o
cume rarefeito da idiotice, sonharam um dia poder ser. E já convencido de
dar-se ao sacrifício de vir a ocupar o lugar vago de o idiota do momento, o
sujeito interpelado só reuniu fôlego para mais uma única de fulminante
pergunta, essa que veio a ser, e se eu quiser deixar o bigode crescer, sobre
isso trataremos mais adiante, a bem da verdade é que já faz algum tempo em que
não temos um idiota-de-bigodes e talvez seja esse o exato momento de apresentar
ao povo um novíssimo idiota-de-bigodes, talvez um idiota-de-bigodes venha a ser
um idiota-de-bigodes-de-meia-idade, quem sabe até um idiota-de-bigodes-grisalhos-de-meia-idade,
não deixa de ser uma excelente sugestão!
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