quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Fábulas: # Procura-se um idiota...

Em virtude da recente e não anunciada escassez de idiotas no mercado de varejo, saíram correndo às ruas à procura de alguém que se prestasse a ser o novo idiota do momento, alguém com potencial inequívoco para a idiotice, que talhasse aquele perfil idiota típico dos aspirantes ao trono dos idiotas, um não-se-sabe-quem com certo rebolado idiota que se encaixasse aos padrões idiotas, e, sobretudo, alguma alma de eminência idiota que suportasse contente a carga de festejos, apupos hormonais, e toda a sorte de uivos coletivos que só aos idiotas verdadeiros é dado receber, e disso fazer a sua razão idiota de vida. Pois encontraram aquele a quem vislumbravam futuro tão promissor e imediatamente interpelaram o candidato com a pergunta já prenhe de expectativas, a saber, então, se ele aceitaria tornar-se um completo idiota para o bem completo de todos os que ansiavam pela eleição do mais novo idiota do momento, e por qual motivo eu aceitaria tornar-me um idiota, perguntou de volta o interpelado, ora, veja bem, o senhor já é praticamente um idiota completo, o que lhe falta é um trabalho mais efetivo de marketing, de venda da sua imagem para que os outros possam conhecer do senhor tudo o que é preciso que conheçam, e assim, portanto, lhe render as admirações e aplausos que só os idiotas verdadeiros em sua prática ininterrupta de idiotices diárias são alvo, e o que isso traria vantagens para mim, retrucou o quase convencido a tornar-se o novo idiota do momento, vantagens inúmeras, a começar por arrancar fora da sua pessoa qualquer qualidade de crise ou pensamentos nebulosos que possam por ventura vir a esfumaçar essa sua consciência de tendências idiotas – note que todo idiota que se preste a ser o que realmente mostra ser, ou seja, um retumbante idiota, é sempre dotado de uma alma translúcida e cristalina, quase feita do mesmo material dos cristais das lojas de taças de cristais – a assim alumiar-se sem medo da luz solar, e para que todos possam o ver naquilo que você realmente sente e mostra sentir, ou seja, dar ao conhecimento alheio todo um repertório vazio de frases feitas e de clichês já mastigados por não sei quantas outras mandíbulas – note que o verdadeiro e completo idiota é sempre esse arauto da voz pública, um legítimo representante do matraquear anônimo da massa sem rosto – e dessa forma, então, cair nos braços daqueles que estarão preparados para carregá-lo até o lugar em que você disser que deseja estacionar, ainda que esse lugar seja o inferno. E além de tudo isso, saiba que o idiota com carteirinha de idiota, para além de todas as vantagens citadas, exala também o raro perfume do charme, esse elixir que faz levitar as narinas dos que tem narinas para cheirar mas que nunca souberam, ele próprios, vaporizar pelos sovacos o aroma que tanto admiram, porque o idiota é exatamente isso, a projeção estúpida e idiota daquilo que os outros, por falta de tarimba ou disciplina para galgar o cume rarefeito da idiotice, sonharam um dia poder ser. E já convencido de dar-se ao sacrifício de vir a ocupar o lugar vago de o idiota do momento, o sujeito interpelado só reuniu fôlego para mais uma única de fulminante pergunta, essa que veio a ser, e se eu quiser deixar o bigode crescer, sobre isso trataremos mais adiante, a bem da verdade é que já faz algum tempo em que não temos um idiota-de-bigodes e talvez seja esse o exato momento de apresentar ao povo um novíssimo idiota-de-bigodes, talvez um idiota-de-bigodes venha a ser um idiota-de-bigodes-de-meia-idade, quem sabe até um idiota-de-bigodes-grisalhos-de-meia-idade, não deixa de ser uma excelente sugestão!


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