Senhoras e senhores, com todo respeito que essa minha alta
patente de soldadinho de chumbo referenda, venho, por meio desta, dizer-vos o
seguinte: SOIS UM BANDO DE JANOTAS-TRAMBIQUEIROS! Janotas, sim! E não só
Janotas, mas também Trambiqueiros! Vós, habitantes desavergonhados de vitrines
refrigeradas, vós manequins recauchutados na vaidade do espelho, vós que
driblais o caminho árduo da formação para fazer pose e vender aquilo que com o
vosso mérito e talento teríeis vergonha de oferecer, vós, senhoras e senhores,
sois um bando de Janotas-Trambirqueiros! Senhoras e senhores, sejais francos! Sejais
sinceros ao menos com esse que vos dirige a palavra em tão nobre tempo verbal e
respondeis com o que resta de vossa anímica inteligência a minha simples
pergunta: como podeis vestir vossos personagens de careta intelectual sem
dar-vos conta da tonelada de camada de maquiagem que estampais em vossos
hidratados focinhos? Ora, senhoras e senhores, sejais francos! Nessa vossa
nação o samba no pé é a regra, vencendo aquele que melhor ajustar as suas
bonanças glúteas ao ritmo do rebolado... Rebolai, senhoras e senhores, rebolai!
Só rebolando atingireis as qualidades essenciais para erguer pomposamente o
troféu do reconhecimento público – ou quereis ainda convencer-me de que o
pensamento justo e preparado, a inteligência e a vocação, podem fazer frente
aos vossos bailes regados à purpurina e paetês? Ah, senhoras e senhores, SOIS
UM VERDADEIRO E RETUMBANTE BANDO DE JANOTAS-TRAMBIQUEIROS! Janotas, sim! E não
só Janotas, mas igualmente Trambiqueiros! Vós, nação de marionetes articuladas
pelos cordames do charme, vós bonequinhos mimados movidos pela lábia, vós que
ocupais os lugares à mesa que deveriam pertencer à pequena minoria melancólica
que prefere obras mais ambiciosas à vossa farsa, vós, senhoras e senhores, sois
a perfeita plateia de um programa idiota de auditório que aplaude tudo o que é
medíocre para mais tarde serdes vós próprios os aplaudidos pelo mesmo barulho
acéfalo da maioria ao qual um dia fizerdes parte. Ah, senhoras e senhores, só
uma coisa vos digo: sois patéticos! Mais bobocas que uma trupe de heróis
fantasiados para entreter um buffet numa tarde de festa infantil!
Janotas-Trambiqueiros, é o que sois! Se ainda tivésseis consciência do crachá
de pateta que estampais em vosso estufado peito de pomba... se ao menos
soubésseis que sois os verdadeiros fomentadores do atraso de vossa nação! Se
soubésseis que tudo o que pregais é apenas VAPOR VAPOR VAPOR! Vapor aromatizado
artificialmente com o corante da competência! Ah, senhoras e senhores – por que
quereis convencer-me de que o protagonista desse triste teatrinho não é outro
senão aquele que passa gel no topete piscando romanticamente para uma plateia
carente de hormônios afrodisíacos, engrossando a voz na tentativa de produzir
alguma gravidade nessa sua figura tão idiota quanto falsa? Ah, senhoras e
senhores! Vós sois a geração mais Janota e Trambiqueira que já pisou nessas
terras infrutíferas de todo-o-sempre! Turminha de péssimos
hipócritas-fingidores, atores-canastrões que chegam até o centro do palco
através da habilidade exalatória dos vossos odores feronômicos... é o que sois!
Ah! Quanto sex appeal! O que é bom dá lugar ao que é bonito e o talento
possível agoniza atrás dos grilhões da tramóia sensual. Sois Janotas!
Já-no-tas! JANOTAS E TRAMBIQUEIROS! E só agora reparo que não faço a menor ideia do significado dessa palavra esquisita: ‘Janota’... mas não importa, afinal, é uma
palavra bonita que combina visualmente com o fervor desse meu discurso
acalorado... apesar desse fato, senhoras e senhores, não vos dou o direito de
apagar vossa identidade Trambiqueira e... JANOTA! Bando de JANOTAS!
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