domingo, 18 de novembro de 2012
O Sr Tuba e a sua Tuba...
Senhoras e senhores, uma comunicação das mais importantes, do tipo capaz de fazer parar a rotação da terra e sarar o soluço de quem está de ponta-cabeça tomando água ao contrário... lá vai: senhoras e senhores, o destino é inexorável! Não, não, senhoras e senhores, deixem de entortar esse biquinho zombeteiro num claro sinal de ‘ah vá? Conta outra’... quando falo que o destino é inexorável não estou me referindo ao nosso resort post-mortem cuja mesa de jantar já está sendo preparada pelos amigos invertebrados do Brás Cubas, estou falando da comédia de costumes da vida mesmo, coisa mais próxima da farsa bufonesca do que das bandas refinadas do Moliére, é verdade, mas enfim... ah senhoras e senhores, o que eu quero dizer é que não há o que temer ou lutar contra uma vez que a cegonha que nos carrega desnudos e com o loló imantado pelo mais celestial hipoglós já sabe perfeitamente o que viremos a ser quando aportarmos nesse planeta de chineses, japoneses, brasileres, alemeses, libaneses e etc(terezes). Explico. Senhoras e senhores, fui assistir ao concerto da OSESP na Sala São Paulo e me sentei bem atrás da orquestra, de frente para o maestro. Estava logo atrás do naipe dos metais – de forma que me deu uma vontade louca de sacar a minha gaita de alumínio laminado e sair caprichando nas fusas e semifusas, mas não, não, não, senhoras e senhores, nada de me interromper com pitadas de humor non-sense nessa minha suntuosa reflexão metafísica a qual generosamente ofereço-vos sem cobrar nadica de nada a não ser respeito eterno e posição vitalícia no pódium dos filósofos contemporâneos. Senhoras e senhores, voltemos à questão! Sentado atrás dos metais, lancei um olhar para o homem que carregava a Tuba e... pasmem: o cidadão era a própria Tuba em pessoa, ou melhor, em tubo metálico! Pois é isso mesmo: o tal do músico tinha a cara e o focinho do próprio instrumento que tocava! Aquilo era por demais incrível para ser verdade, mas era sim! Posso apostar que aquele gordão em forma de Tuba, com gogó de Tuba, papo de Tuba, espírito de Tuba, já nasceu predestinado a ser uma Tuba em vida, e tudo isso para além das suas vontades e desejos no meio dessa sinfonia da vida. Ou seja, resumindo porque sempre é bom resumir, e já evocando o Zeca Pagodinho: ‘Deixa vida me levar, vida leva eu’! Ah, meu Deus! Que vontade maluca que eu tive de alcançar o sujeito da Tuba no intervalo do concerto e trocar alguma conversa fiada com ele só para me certificar de que ao invés de palavras o moço gordo emitiria uns FOM FOM FOM FOM diretamente da sua traquéia tubular!!! Senhoras e senhores, não tenho dúvida alguma de que o Sr Tuba chama-se exatamente Sr Tuba e para comprovar isso bastaria lhe roubar a identidade, documento que tentei a todo custo surrupiar do seu bolso durante o adágio de Mahler, mas que acabei desistindo em razão da forte emoção que as cordas me causaram, levando-me a embarcar no triste sentimento do compositor alemão. Mas isso não foi de todo o mal, porque ao lançar meu olhar para os violinos qual foi a minha surpresa ao constatar que todos os que tocavam violinos não só tocavam violinos como tinham a cara perfeita de um violino! Santa Mãe de Deus! Aquela orquestra era a prova cabal de que nós, seres humanos, não temos escolha nenhuma nessa orquestra terrena! Somos o que nos cabe ser e ponto final! Um cidadão-violino só pode tocar violino, não há Cristo, Maomé ou Buda na Terra que o faça aprender assoprar um fagote.... e por falar no fagote, o músico que empunhava o instrumento pescoçudo de voz anasalada parecia uma girafa com resfriado, fazendo um perfeito par com o seu companheiro inanimado. Ah, senhoras e senhores! Que descoberta a minha! Pra onde eu olhava via a correspondência imediata do músico com o seu instrumento, sem tirar nem por. Voltei pra cara com cara de apito, porque até hoje não aprendi a tocar outra coisa senão apito... e foi aí que eu tive uma iluminação: sou um apito! Desses apitos que apitam mas ao mesmo tempo não apitam nada... vivendo para escrever coisas inapitáveis na barulhenta sinfonia utilitária do mundo! Ah, meu pai amado... sou um apito. E agora encerro com um apito final: PIIIIIIIIIIIIIIII. (Palmas). Eu: Obrigado, obrigado, mas hoje não darei Bis algum!
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