segunda-feira, 25 de março de 2013
S.O.S
Disseram-me poeta
Justo a mim a alcunha!
Eu que poucos deles, poetas, conheço
Eu que do texto longo faço-me admirador
A mim que no ímpeto da escrita imagino-me preenchendo laudas e mais laudas de imagens não vistas...
E devolvem-me isto: és um fabricador de versos!
E sem forças para revidar, versos continuo a fabricar...
Triste sina a minha.
Como aventurar-me na longa jornada se o que se habita é um território de ilhas já pisadas?
Continentes explorados, legislações há muito fundamentadas, capítulos de tudo quanto é humano já escritos...
Não há becos não conhecidos!
E ainda no pouco de escondido que sobra
Alguém já soube uma lâmpada no teto instalar...
Para ver o que nublado está, basta o interruptor acionar...
O homem não é tão infinito assim para ser objeto de visitas recorrentes
Hoje deixo-o morrer, e a mim junto - escolha não tenho! -, encerrado nas próprias fronteiras...
O poema, agora vejo, é uma jangada
Um punhado de madeiras ocas pela métrica alinhavadas
Na partitura da sinfonia, seria a sincopa
Um intervalo precário de respiração
Um pedido de socorro lançado ao mar das certezas...
Ao longe, horizonte sem vistas
Se houvesse uma garrafa vazia ao meu alcance, faria como nos filmes
Engarrafando o que digo
Na espera de abrigo...
Eu, que supunha-me almirante
Um náufrago virei
Aqui então fico, à deriva
Provando que escrever (o que importa?)
Um pouco ainda sei...
...
...
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