segunda-feira, 25 de março de 2013

AUSÊNCIA e PRESENÇA...



Entrei na igreja vazia
Padre não tinha
Silêncio de tudo
Num templo mudo...

Romaria também não havia
Entrei eu numa igreja vazia
Agora uma igreja só minha e de mais ninguém, 
Sem um único discípulo do além...

E, no intervalo da ladainha,
Fiz-me coroinha.
Em tempo recorde -
Já Papa entronado.
Eu, sacerdote do invisível
Um autodidata consagrado...

Corre-se atrás do sagrado
Como se dele fosse possível fugir
O que é sagrado aqui está
Ou não está...
E aqui está o que há para estar:
Uma igreja vazia
Agora uma igreja minha
Meu lar...

Na homilia que preparo, a missa será banida
Os fieis, convocados a calar
A bíblia?
Lacrada!
Não há evangelho que substitua o mistério da ausência do verbo...

Férias com os clérigos,
Monges,
Carmelitas,
Franciscanos,
Decanos, arcebispos
E com toda a horda de ministros!

Entrei na minha igreja
Agora sem mistérios
Ou cheio deles
Para que se veja!

Ter-se algo a crer parece-me insulto
Ao sagrado que o mundo torna a ver
Com a poesia se dá o mesmo:
Querem habitá-la no impalpável
Ao passo que, se do poema não se pode fazer matéria
Os versos viram reza
Duma promessa de mentiras etéreas...

A comunhão deveria ser estendida
Para além de uma simples hóstia digerida...
Incorporar
Corpo
Carne...

A minha igreja vazia tem corpo
A ausência de entornos humanos a sacraliza
Seu silêncio toca para adiante da oração
Se Deus, ao invés do verbo, assumisse a não-ação
Teria o meu perdão!

O sagrando está no não haver, havendo
A página em branco
O teatro vazio
A minha igreja às moscas...

Acho que tenho fé
E já me contradigo
Senhor! Que coisa difícil é viver

Vontade tenho eu de apagar o mundo
Ou de tê-lo apagado dentro de mim

O que sobra e vejo
(E não vejo)
É o verdadeiro!

...

...

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