Era uma vez uma colônia de piolhos-pulguentos que viva num tranquilo lombo felpudo de um cachorrão igualmente tranquilo e felpudo por inteiro. Então, certa vez, um piolho-pulguento, cansado do mormaço interminável dos dias de marolas nada bravias, botou-se de pé nas suas pequenas e alquebradas patas serrilhadas de piolho-pulguento e disse aos outros companheiros de mamata: senhores! Façamos alguma coisa! Mordamos o bendito cachorro! E, acometidos pelo ânimo revolucionário do piolho-pulguento, todos os demais piolhos-pulguentos puseram-se imediatamente a abocanhar o lombo tranquilo e felpudo do cachorrão igualmente tranquilo e felpudo por inteiro. Numa primeira coçada, o cachorro deu conta de matar metade da colônia de piolhos-pulguentos, e, em meio as exéquias fúnebres que vieram na sequência, os piolhos-pulguentos sobreviventes evocaram a gloriosa lembrança daqueles outrora piolhos-pulguentos revolucionários, dispostos a dar a própria vida de piolho-pulguento para que outros piolhos-pulguentos pudessem, aquele dia, lembrar do quão corajosos a nobre raça dos piolhos-pulguentos podem dar conta de ser, caso queiram ser, evidentemente. E o exemplo deu tão certo que todas às vezes em que um cachorro tranquilo e felpudo abdica de sua canina tranquilidade para coçar o próprio lombo felpudo, não surpreendam-se!, trata-se de uma outrora tranquila colônia de piolhos-pulguentos em busca de alguma homenagem autocontemplativa...
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário