Como recebiam flores e não podiam regá-las, os mortos decidiram, numa assembleia extraordinária que reunia os defuntos todos, dos frescos aos já curados, que não mais as receberiam, delegando aos vivos a tarefa de aguá-las, mas como os vivos contra-atacaram alegando que não cabia aos mortos, dos queridos aos desconhecidos, impor condições às decisões dos vivos, ainda que sobre flores, combinou-se, então, que tudo permaneceria como estava, as flores sendo entregues como antes, e murchando nas tumbas, como sempre. E ainda se pratica o mesmo hábito, não sofrendo ninguém, nem os vivos porque dos sofrimentos todos esse da piedade por flores murchas desaparece feito piada, nem os mortos, que já sofredores em vida aposentaram-se de sofrer depois de haverem tanto sofrido, ou melhor, sofrendo apenas as flores, que se não sofrem para que as vejamos sofrer, ao menos torcem para chover, e isso podemos perfeitamente ver, os mortos e os vivos, basta querer
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