Há dias em que me bate uma vontade louca de ser japonês, mas desses japoneses do Japão, de olhos puxados e que comem cadáver de peixe enrolado em alga azeda feito um ritual ancestral de reverência a algum espírito superior seja lá qual seja Ele, tudo no mais sepulcral silêncio contemplativo...e bem longe desses japoneses arraigados em solo tupiniquim, ainda que tenham eles também os mesmos olhos puxadinhos e que repitam o cardápio frio dos primos do oriente. Isso porque esses últimos japoneses, os abrasileirados, já se contaminaram por essa radiação tropical que os torna parecidos com nós, contingente de maritacas desvairadas que vivem para subir nas tamancas da Carmen Miranda e desfilar cocares de frutas por cima dos cocurutos, ainda que ninguém saiba se equilibrar nos tamancos como a saudosa Dona Carmen, e tampouco tenham cabeças com superfícies suficientes para sustentar tanta melancia como advogam fazer (fora, evidentemente, nossos primos cearenses). Porque a questão é essa, uma breve visita à padaria da esquina se transforma numa imersão antropológica no coração da bateria da Estação Primeira da Mangueira, lar abençoado do já finado, mas nunca esquecido, Jamelão. Se por um acaso algum desgraçado dessa terra sub-equatoriana resolve ir bebericar um cafezinho num desses estabelecimentos barulhentos e lá dentro é acometido por uma ideia genial capaz de revolucionar a ciência moderna e deixar Einstein lambendo sabão com aquela sua língua cheia de papilas relativas, não importa o quão efusivo seja na tentativa de angariar plateia para a sua descoberta, ninguém prestará a mínima reverência ao dito cujo, todos empenhados que estão em competir seus decibéis com os do Seu Zé, operador de britadeiras que também aqui, no ocidente abafado, é mais barulhenta do que as de lá, do oriente ensolarado. Aliás, aposto meu dedinho mindinho que não há britadeiras no Japão, lá os buracos devem ser tapados com alguma espécie de oração budista, sem mover uma única onda sonora para tal tarefa. Ah... que vontade de ser japonês, mas um legítimo japa do Japão, lugar que, mesmo visitado por Tsunamis, ninguém se dá ao luxo de sair por aí arrastando as chinelas e gritando 'Silvio Santos vem aí, tralá La-ra La-ra!'...
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