Ao abrir a janela, três pombas gordas e de pescoço engomado feito colar elisabetano formavam uma linha no parapeito do prédio vizinho a exemplo de três matronas líricas que esperam o subir da cortina para iniciar a arrulhar falsetes. A primeira delas arriscou a Rainha da Noite e foi efusivamente recebida pelo alvoroço de um punhado de maritacas; a segunda, mais humilde, se fez de voz de coro e emendou a melodia dos escravos hebreus da ópera Nabucco. A terceira pomba, a menos dramática de todas, não cantou... contentou-se apenas em rir baixinho das outras - era uma pomba do tipo pomba-existencialista -, e antes de bater asas para o longe pôde-se ouvir dela uma única e sussurrada frase:
- que coisa curiosa são as pombas...
E foi-se.
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