Só sabemos que se chamava Augusta, ou nem isso sabemos, e ainda, se quiséssemos, poderíamos inventá-la um sobrenome qualquer, mas são tantas as Augustas vagando por aí que não valeria a pena cercá-la de batismos outros senão esse que por hora nos satisfazemos em aferir: chamava-se Augusta e pronto. Mas saibam vocês que bem poderia chamar-se Olegária, ou quem sabe Epifânia-das-Acácias, por que não?... coisa que em nada alteraria o produto dos fatos. Fiquemos com Augusta e não se fala mais nisso. Pois ela, Augusta, era a responsável, ou ainda é, por impedir que qualquer fulano que por ousadia rompesse as margens do bom senso, ainda que margem alguma houvesse sido proclamada aos ventos, resolvesse, por livre e espontânea implicância, galgar os degraus daquela escada que, nesse instante e por razões que a nós parecem mais do que justificáveis, não merece explicações acerca de onde iria dar, só nos restando dizer: era uma escada que iria dar em algum lugar e pronto. Mas saibam vocês que bem poderia ser uma escada cujo destino levasse o seu aventureiro escalador a desfrutar das mais angélicas iguarias, esperando-o no cume uma comitiva de nobres representantes todos enfileirados atrás de uma generosa fita somente aguardando o momento em que ele, o fanfarrão aventureiro ultrapassador de degraus, sacasse de seu bolso uma tesourinha qualquer para, então, rasgar com um ‘zip’ certeiro o cetim brilhante daquele limite falsamente imposto para, então, ser atingido na cabeça por bexigas coloridas e confetes recortados em pedaços pequenos e igualmente coloridos, tudo, evidentemente, celebrado sonoramente pelos acordes de uma fanfarra qualquer, ou mesmo uma banda, e ainda que fosse um quarteto de cordas, enfim, daria no mesmo. Fiquemos com a fanfarra e pronto. Pois ela, Augusta, consideremos esse o seu único nome sem sobrenome, estava lá justamente para impedir que qualquer diabo transgressor ousasse direcionar o seu corpo, mirrado ou preenchido por banhas, para esse monumento de ferro escarpado e, por fim, agisse como um desnaturado criminoso que certo dia acorda com o único objetivo de fazer frente às legislações sociais amplamente entabuladas nas placas da lei e da ordem, ainda que placa alguma houvesse, e muito menos uma placa dizendo: NÃO SUBA A ESCADA!, para, então, lançar-se impiedosamente para cima, com ou sem a ajuda do corrimão, para, então, lá do alto, distribuir sorrisos zombeteiros para aqueles que, sábios de sua minúscula importância, tivessem permanecido onde deveriam permanecer, no andar debaixo, silenciosos e admirados com tamanha falta de senso ético e moral daquela ovelha desgarrenta, cujo balido altissonante faria qualquer um reivindicar seus direitos junto aquela cujo nome decidimos democraticamente ser Augusta. E justamente lá estava ela, Augusta, empregada para tal emprego: o de evitar que aquela escada servisse de emblema transgressor, pronta para reprimir com a força da voz a ordem inequívoca resumida na seguinte frase: PROIBIDO SUBIR AÍ!... e vejam vocês, aquela escada bem poderia ser o destino de um cadafalso, fazendo dos seus degraus a marcação ritmada dos últimos suspiros do condenado que houvesse curiosidade por vencê-los, nesse caso, então, Augusta seria uma verdadeira anja travestida de funcionária da burocracia crepuscular, mas, ainda que isso fosse verdade, que regra é essa que impede qualquer miserável de dizer: QUERO ME ENFORCAR E PRONTO! (???), justo por justo, seria mais do que justo que qualquer diabo decidisse por si só e sem a interferência de qualquer Augusta, Sônia ou Eulália, se seria o caso, hoje ou amanhã, de se enforcar ou não, ainda que para tal houvesse por desafio escalar aquela maldita escada feita de metais talhados... mas tudo isso são conjecturas, afinal, a escada ainda continua lá, virgem de viajantes, e para todo o sempre guardada por sua fiel escudeira, Augusta, ou Norma, ou Sylvia com ‘Y’...
...
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário