Senhores! Venho por meio desta dar-vos a dizer que neste dia azeitado pela preguiça da labuta-comemorada, quando justamente não se labuta patavina nenhuma para poder comemorar o fato de não precisar labutar, inaugura-se, enfim, a sábia consciência de que é infinitamente mais proveitoso deitar o vosso grisalho bigode no vinagre do tédio a ter de, evidentemente, fazer dele o protótipo do que já é e mostra-se ser e por infindáveis alvoradas pregressas - seja devido ao impulso viciado do hábito adquirido, ou, então, por força da correnteza sádica da vida -, ou seja, enfim e portanto, um bigode-operário a serviço dessa indústria de bigodes-operários que não faz outra coisa senão embigodar de pelos encaracolados a existência a qual foi nos dada a patinar. Cônscio da presente ementa e nutrido do poder da lábia comunicativa {a qual não posso furtar-me o talento de adquirir}, venho por meio desta alertar-vos em carinhoso apelo humanitário: vão todos pastar! Ou melhor: pastai, senhores! Pastai enquanto é possível que pastem! E no lento ruminar do capim em vossas mandíbulas travadas por dentaduras encariadas, lembrai de que hoje é o dia de cofiar vossos grisalhos bigodes, senhores, e, permitam-me dizer, a cofiação, afinal, é verbo imperativo, o único que, de fato, valeria a pena conjugar hoje e sempre.
Grato.
A Direção.
*** Obs: O miserável que por desgraça da providência divina veio a este teatro de misérias destituído de um bigode (grisalho ou não grisalho) por debaixo da napa, que vá ele se virar nalguma loja de disfarces e o adquira em prestações que lhe caibam no vazio e esfomeado do bolso...
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